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A primeira grande diferença entre a complexa história de espionagem americana e a nossa soberba comédia talvez seja o facto de, nos Estados Unidos, as escutas existirem mesmo. Parecendo que não, numa história de escutas, isso faz alguma diferença. Em Portugal, até ver, as escutas são imaginárias, o que confere à história este carácter encantadoramente rocambolesco - e muito português: os americanos agem, colocam escutas, espiam mesmo; os portugueses imaginam que estão a ser escutados, fantasiam sobre espionagem, convidam os jornais a efabularem com eles. Nos Estados Unidos, o presidente mandou colocar escutas na sede dos seus adversários políticos e foi apanhado. Demitiu-se. Em Portugal, a fazer fé na imprensa, o presidente mandou publicar uma suspeita acerca de escutas colocadas na sua residência oficial e foi apanhado. Demitiu o assessor de imprensa. Faz sentido. Nos Estados Unidos era a sério. Cá, era a fingir. Não estava a valer.
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Ricardo Araújo Pereira in: http://aeiou.visao.pt/o-watergate-portugues=f530278
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