domingo, 22 de agosto de 2010

A MISTELA DO EDUQUÊS


Texto gentilmente enviado por Guilherme Valente ao De Rerum Natura, saído no semanário Expresso de hoje.

«Os que negam a razão não podem ser conquistados por ela.» A. R.
.
1. Só há um grande problema em Portugal, todos os outros derivam dele, serão resolvidos por acréscimo: a educação. O nosso défice público maior. No entanto, a solução desse problema fundador foi deixada a um grupo de pessoas de duvidosa formação, chocante insensatez, gritante incapacidade de gestão, desígnio ideológico inconfessável. Durante mais de trinta anos. Sobrevivendo a todas as mudanças de governo. Com uma continuidade como nunca se verificou noutra área governativa. Sem terem sido eleitas. Sem o seu programa ter sido votado pelos Portugueses. Impedindo a construção da escola do conhecimento e da exigência, que redistribuiria a cultura e qualificaria os Portugueses, esse grupo dos «especialistas» controla todo o sistema educativo, das estruturas de poder do Ministério à formação de professores. Recrutaram em todos os partidos, colocaram fiéis ou têm instrumentos nas Presidências da República. Na expectativa de eleições, preparam já a troca de cadeiras nos lugares mais visíveis no Ministério da Educação. À espera do próximo convertido ou «idiota útil» mais provável para ministro. Ninguém pode ambicionar uma carreira na educação sem aceitar o seu jugo. Uma «União Nacional».
.
2. Confrontados com a tragédia dos resultados, que não os deixámos continuar a esconder, justificam o insucesso atribuindo-o a «cedências», «desvios» e «recuos» na realização do seu projecto. Devem ser assim interpretadas divergências recentes. E chegou a «justificação» mais sinistra: «Precisamos de mais tempo». Perante a sucessiva descida das notas de matemática, os responsáveis pelo Plano de Acção para a Matemática (os mesmos que causaram o descalabro) disseram… precisarem de mais anos (Expresso de 3/6/10, p. 18). Não chegaram trinta anos de experiência, um longo cortejo de vítimas? Pseudo-argumento, inverificável, fanático, que se conhece da História. No registo da política, como no da ciência, quando não se aceita a prova da realidade - neste caso o fracasso verificadíssimo da anti-escola imposta ao País - entra-se no reino das «ciências» ocultas. Também nesse sentido o eduquês é uma seita. Uma história conhecida ilustra a natureza irracional da falácia: Envenenado pela mistela do curandeiro, o doente acaba por ir ao médico. Levado o charlatão a tribunal, o que diz em sua defesa? «Se tivesse continuado a beber o meu remédio… acabaria por melhorar.» Até quando? Até morrer mesmo, pois não era remédio, mas veneno.
.
3. Estúpida relativamente à escola de que o País precisa, mas perfeita relativamente ao projecto de sociedade que querem impor, a instituição do fim das retenções, agora tão atalhoadamente defendida (Expresso de 31/7/2010 e entrevista ao telejornal da SIC), é, afinal, a dose letal da mistela que faltava. Percebe-se o seu efeito num país como Portugal. Solução final há muito desejada pela seita, que, finalmente, um ministro e um governo lhes oferecem. Só num ensino, útil e digno para todos, que seja exigente desde a primeira aula, e, assim, gerador da autoexigência de professores, alunos e pais, as retenções e o abandono seriam residuais. Uma escola em tudo o inverso da que temos. Mas mesmo nesse caso uma impossibilidade das retenções devia ser formalizada.
.
4. Do mesmo modo, a política dos grandes agrupamentos, vista como de poupança financeira, é, sobretudo, outra concretização do projecto ideológico imposto ao País: criam espaços anómicos, onde, sem regras, na dissolução do conhecimento que conta e dos valores que humanizam, na «libertação» dos ressentimentos, supostamente se diluiriam todas as diferenças, sociais, culturais, pessoais. Ao contrário, por exemplo, do que acontece na Finlândia, que tão mentirosamente referem.
.
5. A minoria que foge ou sobrevive não chegará para resistir à aniquilação geral da inteligência e da vontade que tem sido perpetrada, para resistir à magnitude do que foi, agora, alegremente, prometido.

Guilherme Valente

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

quarta-feira, 21 de julho de 2010

Ideologias

Se é verdade que o Presidente da República jurou cumprir e fazer cumprir a constituição de que estará ele à espera? Como quererá ele tratar os ímpios que a tentam desfalcar? Ahhh, quase me esquecia, não está em território nacional e como tal não fala. Típico não?

Nós por cá, incorremos, assim como quem não quer, numa de um ultra liberalismo que assusta até o doutor Jardim. sem teres chegado a ir, volta Sócrates pois estás mais que perdoado.À tua direita esconde-se uma enorme bomba social que parece querer rebentar...

domingo, 18 de julho de 2010

O Peregrino


O peregrino, cartoon de António, in Expresso

"Um horizonte plúmbeo"

...
Assim, hoje, não é só todo o modelo Keynesiano que está em crise e cujo fim se anuncia, são também os principais paradigmas ideológicos da esquerda do século XX.
Neste panorama, a política perdeu os seus referentes ideológicos e fulanizou-se. Os centros de poder e de decisão nacionais estão a transferir-se para instâncias supra nacionais (quando não para empresas globais) sobre as quais não há qualquer controlo democrático...

António Marinho e Pinto, Bastonário da Ordem dos Advogados, in Jornal de Notícias

sábado, 17 de julho de 2010

Depois das SCUTs: Governo pondera taxar “passeio dos tristes”

Quarta-feira, 14 de Julho de 2010

Depois de tentar, sem sucesso, taxar as SCUTs, o Governo pondera agora taxar o “passeio dos tristes”, implantando um chispe nos próprios tristes, que assim que pensam em tirar o carro da garagem para passear ao fim-de-semana, a Brisa vai-lhes logo à conta.

A ideia é simples. O secretário de Estado explica: «Primeiro convidamos os tristes para um belo chispe. Como gostam todos de comer, vêm logo e nem fazem perguntas. A partir daí, sempre que pensam em passear de carro, pimba. Por exemplo, um triste acorda de manhã, reúne a família e diz “e se fôssemos até Cascais, depois fazemos o Guincho, Malveira, vamos até Sintra, passamos por Mafra, Outlet do Carregado e voltamos”. Neste caso, o triste já estava a pagar vinte e cinco euros. Se o primo deste triste, zangado aliás por ser sempre o outro triste a escolher, optar por levar a família até Palmela, cabo Espichel, Sesimbra e Tróia, paga 35, sem contar com o barco. Já se sabe que isto dará depois discussão, com o primeiro triste a dizer ao segundo que tinha razão quando disse que deviam ir até Cascais. É só mais um bónus que este sistema nos dá: ver os tristes a discutir antes, durante e depois do passeio.»

Com esta medida, justificada pela austeridade, o Governo pode vir a encaixar o PIB da Alemanha, derivado à quantidade de tristes.

sexta-feira, 16 de julho de 2010

Problemas Conjugais


Cartoon de Henrique Monteiro

terça-feira, 13 de julho de 2010

passos perdidos



o senhor ps e o senhor psd. desde já pedindo desculpa aos gatos por tão desastrada comparação...

Je t'aime, moi non plus


Cartoon de Henrique Monteiro

Santa paciência...

E que tal um governo de iniciativa Presidencial? sim! Não!

Um governo de mão forte, militarizado...

E que tal? Não, pois não! Melhor tudo conforme está! Está tudo tão bem cá no cantinho.

sexta-feira, 9 de julho de 2010

Provérbios ilustrados por Henrique Manuel


Retirado de: http://editora-afrodite.blogspot.com/

terça-feira, 6 de julho de 2010

Crise do capitalismo

A Escola

"A escola não tem culpa, é a nossa sociedade que é culpada. A escola, a universidade, deveriam ser o lugar onde a imaginação tem campo livre, onde se aprende a pensar, a reflectir, sem qualquer meta. Mas isso é algo que estamos a eliminar em todo o mundo. Estamos a transformar os centros de ensino em centros de treino. Estamos a criar escravos. Somos a primeira sociedade que entrega os seus filhos à escravidão, sem qualquer sentimento de culpa.»

Alberto Manguel, entrevista, retirado de: http://nemsemprealapis.blogspot.com/

sexta-feira, 2 de julho de 2010

Corja maldita, Pedro Almeida Vieira

Excerto do romance "Corja maldita" de Pedro Almeida Vieira (Sextante). o autor de "Nove Mil Passos", "O Profeta do Castigo Divino" e "A Mão Esquerda de Deus". que logo às 18h30 irei apresentar na Livraria Almedina Estádio de Coimbra (o livro versa a expulsão dos jesuítas no tempo do Marquês de Pombal mas o facto de ter um narrador diabólico permite-lhe incursões como esta pela nossa actualidade):


"E acreditando nas palavras de um sucessor do conde de Oeiras - homem com nominata de filósofo, versado em recitar aforismos e que trata, nos nossos dias, os portugueses como analectos - essa carruagem alegórica chamada Portugal tem ainda de compor, para este desiderato e neste pequeno pedaço de mundo, auto-estradas em todos os distritos - três serão precisas de Lisboa ao Porto -, mais duas linhas férreas de alta velocidade para Espanha, uma tríade de pranchas de betão e aço entre a capital e a margem sul, mais um novo aeroporto majestático em cima de chaparrais, mais um terminal de contentores para emparedar as vistas do Tejo, mais umas plataformas logísticas em terras agrícolas, muitos empreendimentos turísticos em cima de arribas para um certo dia soterrarem uns incautos banhistas, uma fartadela de centros comerciais, estádios de bola muitos, e outros folclores e demais obras fantasias, sinuosas e escorregadias, tudo destinado a prover de folguedos e acepipes o povoléu, que tudo há-de pagar, para alegria de empresários e partidários de comissões e alcavalas, mesmo sabendo-se que, à conta das muitas manigâncias, os tribunais vão ficando entupidos em rebuçados processos, mas convenientemente arquivados ou prescritos em tribunais superiores, quando não inferiores, gastando-se, as mais das vezes, sem glória, horas de escutas telefónicas que se destinam, mais tarde, a surgirem no Youtube."

Retirado de: http://dererummundi.blogspot.com/search/label/literatura

quarta-feira, 30 de junho de 2010

A escola não pode permanecer tal como está.

A propósito da publicação do livro O ensino do Português, referido em post anterior, a sua autora, Maria do Carmo Vieira, deu uma entrevista, onde afirma o seguinte:


"A escola não pode permanecer tal como está, porque já bateu fundo – e não só em relação ao ensino do português, mas em várias outras matérias. Estamos a ensinar na base daquilo que é fácil, do que não exige esforço, nem trabalho. Estamos a fomentar gerações e gerações de alunos que não pensam, nem sequer sabem falar ou escrever.

Ao tornar a facilidade da escola comum para todos, um aluno que venha de um contexto familiar rico, do ponto de vista cultural, não vai ficar prejudicado, porque os pais hão-de ter sempre dinheiro para ele ir para explicadores ou para frequentar boas escolas. Já aqueles que vêm de espaços mais fragilizados socialmente, esses sim é que vão ser torturados e explorados pela sociedade."

Retirado de: http://dererummundi.blogspot.com/

Insultos a chefes de estado


«Se existe na natureza um principio de justiça, esse é necessariamente o único princípio político que jamais existiu ou existirá. Todos os outros princípios ditos políticos, princípios que os homens têm o hábito de inventar, nada têm de princípios. São ou puras vanglórias de simples de espirito, que imaginam ter descoberto qualquer coisa de melhor que a verdade, a justiça e a lei universal, ou as astúcias e os pretextos a que recorrem egoístas e celerados a fim de obterem a glória, o poder e o dinheiro.»

Lysander Spooner, in "insultos a chefes de estado" fenda, 1999

Retirado de: http://ocafedosloucos.blogspot.com/2008_01_01_archive.html

um cartoon...

Mariano Gago desafia os portugueses a estudarem mais

Mariano Gago desafia os portugueses a estudarem mais - Educação - PUBLICO.PT

Notícia bombástica do jornal Público: Mariano Gago, ministro da Ciência e Tecnologia e do Ensino Superior, afirmou que “é preciso estudar mais, é preciso voltar à escola, é preciso saber mais”.
Segundo a opinião unânime dos analistas políticos, trata-se de uma enorme gaffe política (sobretudo a primeira afirmação: “é preciso estudar mais”), pois contraria radicalmente a política educativa do actual governo, bem como do anterior (liderado – embora por vezes possa não parecer – pelo mesmo primeiro-ministro). Não é de excluir um conflito político entre o ministro da Ciência e Tecnologia e do Ensino Superior e a ministra da Educação.
Que pensará o primeiro-ministro sobre o assunto, admitindo que pensa alguma coisa?

terça-feira, 29 de junho de 2010

Não vivemos acima das nossas possibilidades.

(...)
Repito: os portugueses não vivem acima das suas possibilidades. Apenas vivem num País onde as possibilidades nunca lhes tocam à porta. O nosso problema é político. É o de uma economia parasitária de um Estado sequestrado por uma minoria que não inova, não produz e não distribui. De um Estado e de tecido empresarial onde os actores se confundem. De um regime pouco democrático e nada igualitário. E de um povo que se habituou a viver assim. De tal forma resignado que aceita sem revolta que essa mesma elite lhe diga que ele, mesmo sendo pobre, tem mais do que devia.

Daniel Oliveira, in : http://aeiou.expresso.pt/nao-vivemos-acima-das-nossas-possibilidades=f590862

segunda-feira, 28 de junho de 2010

Rui Reveles: na feira da ladra "glocal" a reciclar o passado

Vende na rua, vende na net. A banca de Rui Reveles tanto está montada na Feira da Ladra como no mundo através dos leilões online. É local, é global – é "glocal". Na gandaia há 5 anos, procura objectos do passado, aprende com eles e ensina. História de um ex-"roadie" dos Censurados que gosta de vender antiguidades.
(Clique no link e veja o vídeo)

20 Anos, 20 Histórias - PUBLICO.PT

Gente da minha terra

quarta-feira, 23 de junho de 2010

A potência e a aldeia

(...)
Em Espanha, o presidente do governo não se ficou pelas obrigações protocolares. Escreveu um belíssimo texto no El Pais sobre o autor. Só que não foi o único. O católico conservador de direita, Mariano Rajoy, também deixou a sua mensagem elogiosa que foi para lá da mera formalidade. O rei manifestou a sua tristeza. Em Lanzarote o povo anónimo dedicou-se a leituras espontâneas da sua obra. Em Lisboa, vários ministros espanhóis, incluindo a número dois do governo, marcaram presença.

Em Portugal, o campo ideológico oposto a Saramago não se fez representar no funeral. Não esteve lá nem Pedro Passos Coelho, nem Paulo Portas. Cavaco Silva fez o que fez e o que fez seria uma impossibilidade em Espanha. Foram ditas frases de circunstância, mas nos fora de debate, na blogosfera e nas caixas de comentários dos jornais desaguaram insultos, ressentimento e mesquinhas acusações de gente que dizendo-se patriota dedica a sua energia a cuspir na sua própria cultura.

Em Espanha, o homem polémico foi incorporado como fazendo parte da cultura espanhola. Como um seu. "Os espanhóis choram hoje Saramago como um dos nossos, porque sempre o sentimos a nosso lado", escreveu Zapatero a Pilar del Rio.

Em Portugal, Saramago foi linha de fronteira e renegado por parte do País. Com o pequeno pormenor do homem em causa ser português, escrever em português e ter regressado na sua morte a terra portuguesa.

A forma como Espanha lida com o que tem, mesmo que o tenha por adopção, e Portugal lida com a sua cultura ajuda a explicar porque uma é uma potência cultural e o outro apenas um país cheio de talentos que acabam, mais tarde ou mais cedo, por partir ou viver próximo da indigência.
(...)

Daniel Oliveira, in http://aeiou.expresso.pt/a-potencia-e-a-aldeia=f589539

A corrida...

Cavaco não foi [ao funeral] porque vai precisar dos votos dos que não leram O Evangelho segundo Jesus Cristo e consideraram Caim uma obra dos infernos.

Miguel Carvalho, in http://aeiou.visao.pt/saramago=f563789

E ajusto eu! Quis fazer as pazes com os correligionários religiosos, os mesmos que o estavam a ameaçar com uma outra candidatura de direita! Assim vai a nossa democracia.

Nuno Monteiro

A Maioria Vence...



Cartoon de Henrique Monteiro

sexta-feira, 18 de junho de 2010

José

Esta paupérrima república, que nem uma letra maiúscula merece, saberá honrá-lo agora que morreu? Ou talvez prefira, cínica como é, que as palavras elogiosas, as que se impõem, sejam as da Monarquia, a vizinha, a que o adoptou!? a ver vamos! Os erros pagam-se ou tornam-se azedos?! Ou estarei tão enganado...

segunda-feira, 14 de junho de 2010

Yes, Minister!!

O exemplo da Finlândia é muito referido, mas poucas vezes com rigor.
Também a Senhora Ministra referiu a Finlândia na Assembleia da República. Na Finlândia não há retenções, afirmou, parecendo querer dizer não existir essa possibilidade naquele país. E nem um deputado lhe pediu para esclarecer o que terá pretendido afirmar. Nos debates parlamentares nunca foi feita, aliás, a pergunta iluminante de toda questão da educação: em que tipo de sociedade quer o «eduquês» obrigar os Portugueses a viverem?Na Finlândia existe a possibilidade de retenção. Mas o objectivo e a qualidade do ensino; a preparação dos professores e o reconhecimento da sua função inestimável; as regras, a direcção e o ambiente nas escolas; a responsabilidade exigida aos pais; a exigência desde o primeiro dia de aulas, reduzem as retenções a uma percentagem residual.Na Finlândia a escola é a sério. Tudo está organizado para os professores ensinarem, os alunos aprenderem, para ninguém ficar para trás.Em Portugal, pelo contrário, o facilitismo é cultivado desde o primeiro dia de aulas. E logo interiorizado por todos: alunos, pais e professores. (Para o bem e para o mal, é a grande vantagem dos seres humanos: adaptarem-se depressa.) O resultado não pode ser outro.A escola finlandesa é o inverso da escola em Portugal. E a medida agora anunciada – possibilidade oferecida aos alunos de 15 anos retidos no oitavo ano de poderem «saltar» para o décimo (e porque não aos de 14 anos?) – é um exemplo expressivo dessa diferença.Medida injusta, por não ser oferecida a todos de qualquer ano (e os melhores conseguiriam avançar); inútil se os exames forem sérios; irreflectida por abalar sem mais a própria arquitectura do tempo de escolaridade.Pareceu-me, aliás, haver constrangimento e confusão na defesa feita pela Ministra desse «milagre». Por isso pergunto: quem manda no Ministério da Educação?Será seriamente imaginável que alunos reprovados (apesar do facilitismo todo) no 8.º ano, possam aprender num ano a matéria do 8º. e do 9º?. E se passarem no «exame sério» do 9.º e reprovarem no 8.º? E os pobres dos professores que os apanharem no décimo?"Exame" em vez de exames, é o que virá. Prepara-se, portanto, mais um grande êxito… estatístico. É para isso esta medida. E não se faz o que devia ser feito: a oferta criteriosa, a tempo de prevenir o abandono, de uma via técnico-profissional, de exigência e dignidade iguais à via de acesso ao ensino superior, que, na Finlândia é frequentada, aliás, pela maioria dos estudantes.O que é oferecido em algumas escolas, por iniciativa de directores e professores que vivem quotidianamente essa falta gritante, sem o empenhamento autêntico, muito pelo contrário, do Ministério, não pode responder a essa necessidade imperiosa. Mas mesmo assim - ouçam-se essas escolas – esses exemplos, que a nomenclatura do Ministério teve de aceitar que surgissem e procura sabotar, a funcionarem sem o reconhecimento, os meios humanos e as condições mínimas, provam a razão dos que durante todos estes anos combateram pela oferta de uma via de ensino técnico profissional no sistema educativo: a sério, qualificada, exigente e dignificada.Impõe-se, pois, a pergunta, para muitos retórica: a Senhora Ministra está com ou contra o "eduquês"? Quer continuar a nivelar por baixo? Partilha o igualitarismo, anti-cultura, anti-conhecimento, loucura de tornar todos iguais? Ou, pelo contrário, quer uma escola de liberdade que revele e valorize as capacidades, interesses e vocação de todos, até ao limite do possível? Uma escola que reduza as desigualdades, ou esta escola de mentira, de ignorância e de exclusão que as agrava? Anti-escola que tornou Portugal no país mais desigual da União, com excepção da Polónia.Tem um projecto para fazer sair o ensino público das trevas?

Guilherme Valente

In Jornal Público, 14 de Junho de 2010

quarta-feira, 2 de junho de 2010

quarta-feira, 26 de maio de 2010

Este país não é para corruptos

Em Portugal, há que ser especialmente talentoso para corromper. Não é corrupto quem quer!

Portugal é um país em salmoura. Ora aqui está um lindo decassílabo que só por distracção dos nossos poetas não integra um soneto que cante o nosso país como ele merece. "Vós sois o sal da terra", disse Jesus dos pregadores. Na altura de Cristo não era ainda conhecido o efeito do sal na hipertensão, e portanto foi com o sal que o Messias comparou os pregadores quando quis dizer que eles impediam a corrupção. Se há 2 mil anos os médicos soubessem o que sabem hoje, talvez Jesus tivesse dito que os pregadores eram a arca frigorífica da terra, ou a pasteurização da terra. Mas, por muito que hoje lamentemos que a palavra "pasteurização" não conste do Novo Testamento, a referência ao sal como obstáculo à corrupção é, para os portugueses do ano 2010, muito mais feliz. E isto porque, como já deixei dito atrás com alguma elevação estilística, Portugal é um país em salmoura: aqui não entra a corrupção - e a verdade é que andamos todos hipertensos.
Que Portugal é um país livre de corrupção sabe toda a gente que tenha lido a notícia da absolvição de Domingos Névoa. O tribunal deu como provado que o arguido tinha oferecido 200 mil euros para que um titular de cargo político lhe fizesse um favor, mas absolveu-o por considerar que o político não tinha os poderes necessários para responder ao pedido. Ou seja, foi oferecido um suborno, mas a um destinatário inadequado. E, para o tribunal, quem tenta corromper a pessoa errada não é corrupto- é só parvo. A sentença, infelizmente, não esclarece se o raciocínio é válido para outros crimes: se, por exemplo, quem tenta assassinar a pessoa errada não é assassino, mas apenas incompetente; ou se quem tenta assaltar o banco errado não é ladrão, mas sim distraído. Neste último caso a prática de irregularidades é extraordinariamente difícil, uma vez que mesmo quem assalta o banco certo só é ladrão se não for administrador.
O hipotético suborno de Domingos Névoa estava ferido de irregularidade, e por isso não podia aspirar a receber o nobre título de suborno. O que se passou foi, no fundo, uma ilegalidade ilegal. O que, surpreendentemente, é legal. Significa isto que, em Portugal, há que ser especialmente talentoso para corromper. Não é corrupto quem quer. É preciso saber fazer as coisas bem feitas e seguir a tramitação apropriada. Não é acto que se pratique à balda, caso contrário o tribunal rejeita as pretensões do candidato. "Tenha paciência", dizem os juízes. "Tente outra vez. Isto não é corrupção que se apresente."

Ricardo Araújo Pereira

FRASE DO SÉCULO

Luís Campos e Cunha, ex-Ministro das Finanças entrará para a imortalidade com a afirmação:

"Não sei para que é que querem gastar dinheiro no TGV se podem perfeitamente oferecer um Porsche a cada português gastando menos".

O Nome da Rosa


Cartoon de Henrique Monteiro

terça-feira, 25 de maio de 2010

Sem Rasto


Cartoon de Henrique Monteiro

terça-feira, 18 de maio de 2010

domingo, 2 de maio de 2010

Sessões contínuas


Cartoon de Henrique Monteiro

terça-feira, 23 de março de 2010

quarta-feira, 17 de março de 2010

A gaffe


Cartoon de Henrique Monteiro

terça-feira, 16 de março de 2010

Democrasfixia


Cartoon de Henrique Monteiro

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Os erros e a política


A política tem esta coisa profundamente anti-científica de nunca se admitir um erro, mas sim de o tentar esconder o mais possível. Um exemplo português recente é-nos oferecido pelas declarações produzidas ontem pelo primeiro-ministro José Sócrates na Conferência do Diário Económico sobre o Orçamento de Estado:

"Decidimos aumentar o nosso défice não por descontrolo, mas para ajudar a economia, as empresas e as famílias", "O défice orçamental português aumentou por uma boa razão, para responder à crise" (...) "O facto de o Estado português ter decidido aumentar o seu défice foi para resolver os problemas e numa dimensão em linha com as outras economias. Não se elevou demasiado, mas sim em linha com a média dos países evoluídos e numa proporção aceitável".

Em contraste, o ministro das Finanças Teixeira dos Santos disse quase na mesma altura na Assembleia da República, na discussão do mesmo Orçamento do Estado:

“As previsões falharam redondamente em todo o lado e não foi porque houvesse intenção de enganar” (...) "Eu engano-me mas não engano” (...) "Não tenho pejo em reconhecer a minha quota parte de responsabilidade no perfil de estagnação e de crescente endividamento."

Um deles está simplesmente a ser mais político do que o outro.

Fonte: Citações do "Público" on-line. Foto de Daniel Rocha do "Público".

Carlos Fiolhais
In http://dererummundi.blogspot.com/2010/02/os-engaos-em-politica.html

terça-feira, 12 de janeiro de 2010

"A seguir à Grécia pode ser Portugal" - JN

"A seguir à Grécia pode ser Portugal" - JN

"O Governo português utiliza um "discurso cor-de-rosa" quando se refere à evolução económica do país (...)"

terça-feira, 5 de janeiro de 2010