Excerto do romance "Corja maldita" de Pedro Almeida Vieira (Sextante). o autor de "Nove Mil Passos", "O Profeta do Castigo Divino" e "A Mão Esquerda de Deus". que logo às 18h30 irei apresentar na Livraria Almedina Estádio de Coimbra (o livro versa a expulsão dos jesuítas no tempo do Marquês de Pombal mas o facto de ter um narrador diabólico permite-lhe incursões como esta pela nossa actualidade):
"E acreditando nas palavras de um sucessor do conde de Oeiras - homem com nominata de filósofo, versado em recitar aforismos e que trata, nos nossos dias, os portugueses como analectos - essa carruagem alegórica chamada Portugal tem ainda de compor, para este desiderato e neste pequeno pedaço de mundo, auto-estradas em todos os distritos - três serão precisas de Lisboa ao Porto -, mais duas linhas férreas de alta velocidade para Espanha, uma tríade de pranchas de betão e aço entre a capital e a margem sul, mais um novo aeroporto majestático em cima de chaparrais, mais um terminal de contentores para emparedar as vistas do Tejo, mais umas plataformas logísticas em terras agrícolas, muitos empreendimentos turísticos em cima de arribas para um certo dia soterrarem uns incautos banhistas, uma fartadela de centros comerciais, estádios de bola muitos, e outros folclores e demais obras fantasias, sinuosas e escorregadias, tudo destinado a prover de folguedos e acepipes o povoléu, que tudo há-de pagar, para alegria de empresários e partidários de comissões e alcavalas, mesmo sabendo-se que, à conta das muitas manigâncias, os tribunais vão ficando entupidos em rebuçados processos, mas convenientemente arquivados ou prescritos em tribunais superiores, quando não inferiores, gastando-se, as mais das vezes, sem glória, horas de escutas telefónicas que se destinam, mais tarde, a surgirem no Youtube."
Retirado de: http://dererummundi.blogspot.com/search/label/literatura
"E acreditando nas palavras de um sucessor do conde de Oeiras - homem com nominata de filósofo, versado em recitar aforismos e que trata, nos nossos dias, os portugueses como analectos - essa carruagem alegórica chamada Portugal tem ainda de compor, para este desiderato e neste pequeno pedaço de mundo, auto-estradas em todos os distritos - três serão precisas de Lisboa ao Porto -, mais duas linhas férreas de alta velocidade para Espanha, uma tríade de pranchas de betão e aço entre a capital e a margem sul, mais um novo aeroporto majestático em cima de chaparrais, mais um terminal de contentores para emparedar as vistas do Tejo, mais umas plataformas logísticas em terras agrícolas, muitos empreendimentos turísticos em cima de arribas para um certo dia soterrarem uns incautos banhistas, uma fartadela de centros comerciais, estádios de bola muitos, e outros folclores e demais obras fantasias, sinuosas e escorregadias, tudo destinado a prover de folguedos e acepipes o povoléu, que tudo há-de pagar, para alegria de empresários e partidários de comissões e alcavalas, mesmo sabendo-se que, à conta das muitas manigâncias, os tribunais vão ficando entupidos em rebuçados processos, mas convenientemente arquivados ou prescritos em tribunais superiores, quando não inferiores, gastando-se, as mais das vezes, sem glória, horas de escutas telefónicas que se destinam, mais tarde, a surgirem no Youtube."
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